domingo, 20 de outubro de 2013

Uma Geração de Consumo ou o Consumo de uma Geração?


Atualmente, observamos um grande apelo consumista voltado ao público infantil, dominando os intervalos de exibição de desenhos infantis e infanto-juvenis, outdoors, shoppings, nos mais variados segmentos de mercado.

Com isso, é cada vez mais comum ouvirmos crianças e adolescentes dizendo que saem para passear e “fazer comprinhas básicas”, que “precisam” comprar determinado brinquedo, roupa, celular, tablet...

Se levarmos em consideração a perspectiva sócio-histórica, compreenderemos que a geração atual já se apropriou dos recursos tecnológicos como naturais e estes, por sua vez, propiciam uma fonte riquíssima de informação e entretenimento.

A internet tornou-se objeto de desejo entre crianças e jovens e para exemplificar isto, o computador e, mais recentemente, os tablets, são os instrumentos essenciais para que se conectem a rede e os alvos de maior cobiça deste público.

            Os inúmeros cenários que se produzem para consumo, diversão e entreterimento do público infantil propiciam também a experimentação de sentimentos tais como o prazer, o descobrir-se e o comparar-se, imprimindo nestes novas maneiras de perceberem-se, como a seu corpo, seus desejos, buscando sempre uma adequação e normatização ao que está sendo oferecido, resultando em um consumismo desenfreado, onde o sujeito é compreendido pelo uso e posse de determinados produtos, o que pode ser exemplificado com a propaganda de brinquedos, onde este deixa de ter o fim ao qual foi criado originalmente, tornando-se um objeto de consumo através das propagandas nos meios midiáticos.

 
            Observamos, então, um grande paradoxo que cerca a concepção de infância atual, pois ao mesmo tempo em que se propagam os direitos ao bem estar da criança e a preservação da mesma, não são divulgados pela mídia referenciais para estas.

 
            De acordo com pesquisas realizadas, os programas educacionais voltados ao público infantil, segundo a indústria da mídia, foram criados para serem assistidos por pais e filhos juntos, com a finalidade de promover a interação entre estes. O fato é que tal finalidade pode não ocorrer de fato, pois, enquanto a criança está a assistir ao desenho ou programa, os pais ou seus cuidadores, estão nos seus afazeres domésticos ou profissionais. Além deste fator, o volume da televisão pode também dificultar esta interação.

            Alguns números para pensarmos: “Para cada hora de televisão a que uma criança menor de 2 anos assiste sozinha, ela gasta 52 minutos a menos por dia interagindo com seus pais ou irmãos. Para cada hora de televisão, há 9% menos tempo durante a semana e 11% menos tempo durante os finais de semana gasto em brincadeiras criativas para uma criança menor de 2 anos.” (Pediatrics - Jornal Oficial da Academia Americana de Pediatria)

 
 


            No documentário produzido por Marinha Farinha, "Criança - a alma do negócio" (link abaixo), temos outros dados alarmantes:
 
·         80% da influência de compra na família vem da criança;

·         Enquanto os pais só conversam com as crianças durante a noite ou aos finais de semana, a publicidade está falando com ela TODO O DIA!;

·         Com apenas 30 segundos, uma marca pode influenciar uma criança;

·         A criança brasileira é a que mais assiste à televisão no mundo, quase cinco horas por dia.

 

            Este tema ainda gera muita polêmica e inúmeros debates, mas nós, enquanto pais, educadores e profissionais, temos que estar atentos às influências sofridas pelas crianças e adolescentes, neste nosso mundo onde o apelo consumista se faz cada vez maior e presente nas relações humanas.
 
 
Bibliografia Utilizada
BELLONI, Maria Luiza; GOMES, Nilza Godoy. Infância, mídias e aprendizagem: autodidaxia e colaboração. Educ. Soc.,  Campinas,  v. 29,  n. 104, out.  2008.
DORNELLES, Leni Vieira. Infâncias que nos Escapam – da criança de rua à criança cyber. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. 109 p.
MARINHA FARINHA. Criança: a alma do negócio. Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=ur9lIf4RaZ4.
Uso de mídias por crianças menores de 2 anos. Pediatrics - Jornal Oficial da Academia de Pediatria. 17 de outubro de 2011. Disponível em: http://biblioteca.alana.org.br/banco_arquivos/arquivos/Uso%20de%20mídia%20por%20crianças%20menores%20de%202%20anos.pdf
SILVEIRA NETTO, Carla Freitas; BREI, Vinícius Andrade; FLORES-PEREIRA, Maria Tereza. O fim da infância? As ações de marketing e a "adultização" do consumidor infantil. RAM, Rev. Adm. Mackenzie (Online),  São Paulo ,  v. 11, n. 5, Out.  2010.
SOUZA, Bruna Louise de Godoy Macedo de. A Criança do Século XXI: uma análise do sentido subjetivo  atribuído por crianças à própria infância. São Paulo: Universidade Paulista, 2012. 213 p.