terça-feira, 31 de março de 2015

Os "nós" em "nós"

Vivemos em uma era de muitos amigos, muitas curtidas, seguidores,  cutucadas, likes, ♥, matchs... Enfim, uma infinidade de ferramentas para "aproximar" pessoas, ampliar seu mundo, círculo de amizade, conhecimentos etc...
Sendo assim, estaríamos vivendo, então, a era das grandes amizades, de grandes proximidades, do sentir-se pertencente, amado, querido, certo?
Utilizando-me de uma expressão vastamente utilizada em redes sociais, observo o contrário... "Sqn"!
Observo, vejo, ouço pessoas cada vez mais sozinhas, não digo em companhia, curtidas, seguidores, mas, talvez, na solidão mais doída, a de não se sentir pertencente... A solidão de "estar" ali, mas não "ser" dali... O ter tudo e não sentir este tudo...
Mas, por que isso?
Penso ser este fenômeno atual digno de ser estudado, pesquisado e isto vem ocorrendo... Não tenho a pretensão, aqui, agora, de oferecer uma resposta pronta para tal... Mas, por que não pensarmos nas razões que podem nos levar a isso?
Não sei... Divagando aqui, tenho a impressão de que vivemos em um momento um tanto quanto paradoxal... Prega-se o direito de pensar, de ser livre, do não controle intelectual, sexual, religioso, político... Porém, na realidade essa "independência" não passa de uma "massificação" de seres "únicos". Somos atiçados a pensar única e exclusivamente como todo mundo.
Com isso, nos vemos na obrigação ou compelidos à pensar livre, mas "livre" igual a aquele que tem opinião; nos vemos no desejo se sermos lindos, mas não o nosso lindo, e sim o lindo como o outro é; inteligente como o outro é;  desejado como o outro é;  querido como o outro é;  formador de opinião como o outro é...
É aquela coisa do ideal. Desejamos não o nosso "eu", mas o "eu" do outro, que eu acredito que seja bom, melhor, ideal. O que ocorre e o que não nos damos conta, que esse "outro" que eu desejo pode também não estar feliz consigo e desejar ser um "outro" também.
E assim, te pergunto, quem somos na verdade? O que tanto temos buscado? Por que há esse sentimento tão "compartilhado" de solidão?
Sem querer ser piegas, mas já sendo um pouco, já parou para se olhar e reparar, perceber o quanto é admirável, bonito, engraçado, inteligente ao seu modo? O quanto suas ideias, pensamentos, opiniões,  mesmo que para uma única pessoa, já foram significativos e importantes? Que seu sorriso, seu abraço, seu afeto já fez diferença no dia de alguém? Que mesmo alto, baixo, gordo, magro, branco ou negro, sempre tem aquele um ou uma que te acha lindo como é?
Não sei... Penso que temos tanto medo de nós mesmos que fugimos de "nós " e entramos em "nós " cada vez mais emaranhados e difíceis de sair.
Uns ainda tentam sair e conseguem. Outros tentam e desistem. E tem aqueles que nem tentam, permanecem ali, emaranhados e perdidos...
Então, nessa era de solicitações de amizades, segue de volta, bloqueios, mensagens inbox, directs, aceite a você mesmo, não se bloqueie e diga ao seu mundo o quanto você é especial à sua maneira. E viva, curta, compartilhe com você mesmo a "dor e a delícia" de ser você!!!! E assim, sendo um, quem sabe, podemos ser nós...