Atualmente,
observamos um grande apelo consumista voltado ao público infantil, dominando os
intervalos de exibição de desenhos infantis e infanto-juvenis, outdoors,
shoppings, nos mais variados segmentos de mercado.
Com
isso, é cada vez mais comum ouvirmos crianças e adolescentes dizendo que saem
para passear e “fazer comprinhas básicas”, que “precisam” comprar determinado
brinquedo, roupa, celular, tablet...
Se
levarmos em consideração a perspectiva sócio-histórica, compreenderemos que a geração
atual já se apropriou dos recursos tecnológicos como naturais e estes, por sua
vez, propiciam uma fonte riquíssima de informação e entretenimento.
A
internet tornou-se objeto de desejo entre crianças e jovens e para exemplificar
isto, o computador e, mais recentemente, os tablets, são os instrumentos essenciais
para que se conectem a rede e os alvos de maior cobiça deste público.
Os inúmeros cenários que se produzem
para consumo, diversão e entreterimento do público infantil propiciam também a
experimentação de sentimentos tais como o prazer, o descobrir-se e o
comparar-se, imprimindo nestes novas maneiras de perceberem-se, como a seu
corpo, seus desejos, buscando sempre uma adequação e normatização ao que está
sendo oferecido, resultando em um consumismo desenfreado, onde o sujeito é
compreendido pelo uso e posse de determinados produtos, o que pode ser
exemplificado com a propaganda de brinquedos, onde este deixa de ter o fim ao
qual foi criado originalmente, tornando-se um objeto de consumo através das
propagandas nos meios midiáticos.
Observamos, então, um grande
paradoxo que cerca a concepção de infância atual, pois ao mesmo tempo em que se
propagam os direitos ao bem estar da criança e a preservação da mesma, não são
divulgados pela mídia referenciais para estas.
De acordo com pesquisas realizadas,
os programas educacionais voltados ao público infantil, segundo a indústria da
mídia, foram criados para serem assistidos por pais e filhos juntos, com a
finalidade de promover a interação entre estes. O fato é que tal finalidade
pode não ocorrer de fato, pois, enquanto a criança está a assistir ao desenho
ou programa, os pais ou seus cuidadores, estão nos seus afazeres domésticos ou profissionais.
Além deste fator, o volume da televisão pode também dificultar esta interação.
Alguns números para pensarmos: “Para cada hora de televisão a que uma criança menor de 2 anos assiste
sozinha, ela gasta 52 minutos a menos por dia interagindo com seus pais ou
irmãos. Para cada hora de televisão, há 9% menos tempo durante a semana e 11%
menos tempo durante os finais de semana gasto em brincadeiras criativas para uma
criança menor de 2 anos.” (Pediatrics - Jornal Oficial da Academia Americana de
Pediatria)
No documentário
produzido por Marinha Farinha, "Criança - a alma do negócio" (link abaixo), temos outros dados alarmantes:
·
80% da influência de compra na
família vem da criança;
·
Enquanto os pais só conversam com
as crianças durante a noite ou aos finais de semana, a publicidade está falando
com ela TODO O DIA!;
·
Com apenas 30 segundos, uma marca
pode influenciar uma criança;
·
A criança brasileira é a que mais
assiste à televisão no mundo, quase cinco horas por dia.
Este tema ainda gera
muita polêmica e inúmeros debates, mas nós, enquanto pais, educadores e
profissionais, temos que estar atentos às influências sofridas pelas crianças e
adolescentes, neste nosso mundo onde o apelo consumista se faz cada vez maior e
presente nas relações humanas.
Bibliografia Utilizada
BELLONI, Maria Luiza; GOMES, Nilza Godoy.
Infância, mídias e aprendizagem: autodidaxia e colaboração. Educ. Soc.,
Campinas, v. 29, n. 104, out. 2008.
DORNELLES, Leni Vieira. Infâncias que nos Escapam – da criança de rua à criança cyber. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2005. 109 p.
MARINHA FARINHA. Criança: a alma do negócio. Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=ur9lIf4RaZ4.
Uso de mídias por crianças menores de 2 anos. Pediatrics - Jornal Oficial da Academia de Pediatria. 17 de outubro de 2011. Disponível em: http://biblioteca.alana.org.br/banco_arquivos/arquivos/Uso%20de%20mídia%20por%20crianças%20menores%20de%202%20anos.pdf
SILVEIRA NETTO, Carla Freitas; BREI, Vinícius Andrade; FLORES-PEREIRA, Maria Tereza. O fim da infância? As ações de marketing e a "adultização" do consumidor infantil. RAM, Rev. Adm. Mackenzie (Online), São Paulo , v. 11, n. 5, Out. 2010.
SOUZA, Bruna Louise de Godoy Macedo de. A Criança do Século XXI: uma análise do sentido subjetivo atribuído por crianças à própria infância. São Paulo: Universidade Paulista, 2012. 213 p.