sábado, 10 de agosto de 2013

"Ser Criança na Sociedade Contemporânea: isto é possível?"





Atualmente, vivemos em plena era da tecnologia, onde avanços em equipamentos, meios, recursos se dão em uma velocidade que, muitas vezes, nos é difícil acompanhar. Observamos também relações interpessoais cada vez mais breves e à distância e, paradoxalmente, próximas, pois estão ao alcance da mão, em um aparelho de telefonia moderno e de fácil acesso à quase todas as pessoas, gerando novas ferramentas de comunicação e um boom de redes sociais. Este cenário influencia nos padrões socioculturais e a maneira em que os pares se relacionam sofre mudanças em suas configurações.

No que tange à infância, comumente ouvimos que a criança de hoje não é igual à de antigamente e que não observamos mais este fenômeno “infância”. Se levarmos em conta o pressuposto anterior, a infância de hoje é, de fato, diferente da infância de dez, vinte anos atrás, não significando, portanto, que não exista mais.

Então... Quem é a criança de hoje???

Para que se compreenda mais claramente tal questão, há que se partir do princípio...

O que significa “Infância”?

Sua etimologia é do latim Infantia, ou seja “indivíduo que não sabe falar” e ao longo da história da humanidade tivemos diversas concepções de infância.

Um dos grandes historiadores e referência no estudo da Criança e da Família, Philippe Áries, através de seus trabalhos, constatou que, até o século XII, não havia a representação de crianças nas obras de artes.

Até este período, não existia uma concepção da infância, o que não significava que eram negligenciadas, porém, não havia uma diferenciação entre o que pertencia ao mundo dos adultos e ao mundo das crianças, participando todos das mesmas atividades de trabalho, festas, jogos, rituais e até os trajes eram iguais e era no convívio com os adultos que a criança aprendia a se comportar.

É somente após o século XV e mais fortemente no século XVII, que surgem as primeiras preocupações a respeito da inocência da criança e a preservação da mesma, evitando-se a promiscuidade, o linguajar impróprio e mantendo a criança sobre constante vigilância. Já no século XIX, a escola e a família atuam como as responsáveis pela educação e formação da criança. Seguindo um modelo médico-higienista, passa-se a primar pelo controle e pela disciplina do corpo.

A Revolução Industrial foi o grande marco para a mudança de paradigma da sociedade contemporânea. A família torna-se nuclear e não mais extensa, unidas por laços sentimentais de grande fragilidade. Em meados do século XX, a criança passa a ser vista como cidadã plena de direitos, resultado da adoção, pela ONU, dos Direitos da Criança. É também neste período que se acredita que o bem-estar das crianças e de suas vidas dependa do “ninho familiar”, o qual se constrói no registro da intimidade.

Na sociedade contemporânea são diversos os cenários que podemos encontrar como divórcios, pais e mães solteiros ou que, quando casados, tem extensa jornada de trabalho, ausentando-se do convívio familiar ou dividindo sua atenção para com serviços domésticos e com o cuidado dos filhos; crianças com jornadas escolares e extraescolares, como esportes, línguas, informática.

No que diz respeito à família, os pais ou os cuidadores, tem grande importância no processo de formação do indivíduo como ser social, pois este núcleo constitui uma das mais importantes instituições de socialização da contemporaneidade.

Ainda sobre a instituição familiar, esta passa por transformações e novas configurações na sociedade contemporânea. A separação conjugal, recasamentos, filhos de novas uniões, outros membros da família, como avós e tios como cuidadores são cenários comuns e que vão sendo incorporados no contexto da criança atual.

Parece existir atualmente um discurso ambíguo quanto ao que entendemos por infância, pois de um lado tem-se e propaga-se a visão de uma infância permeada pela inocência e fragilidade, e ao mesmo tempo, oferece-se à estas um mercado de grande consumo, de bens culturais e de lazer diversos, de facilidade no que tange ao acesso às mais variadas informações, distâncias encurtadas com acesso à internet e novas configurações familiares.



Este paradoxo envolvendo tal período do desenvolvimento humano gera angústia à toda sociedade.

Brincadeiras de rua, com bonecas, carrinhos e com outros pares, ainda são comuns em nossa sociedade, mas tem como aliados não apenas a televisão, as brincadeiras em jogos de vídeo games e computador ou páginas de relacionamento, mas também as atividades extraescolares, como esportes, línguas e desenvolvimento de habilidades diversas, e tarefas dentro de casa.

O que se pode perceber quanto às diferenças entre brincadeiras reais e virtuais é que a primeira favorece uma socialização maior entre as crianças, enquanto a segunda, quando ocorre com maior frequência, distancia a criança de seus pares, provocando um isolamento desta e uma dificuldade maior em comunicar-se.

 

As crianças são hoje seres atuantes na sociedade, construindo um novo modo de entender e compreender a infância, que é própria de nossa época e sendo a infância um conceito socialmente construído, as crianças de hoje vivenciam este momento do desenvolvimento à maneira que lhes é possível e oferecido e se compreendem como tal, brincando, estudando e consumindo, visto que, no século XXI, esta é uma das características que constituem a infância.

Este é um texto de abertura para novas discussões sobre a infância atual, no qual o objetivo é uma compreensão de como estes cenários podem contribuir ou não para um desenvolvimento saudável de nossas crianças.

Bibliografia Utilizada
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